terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dia a dia, nove luas




Dia a dia, nove luas, 
dia a dia, meu amor 
ganhando corpo

Quantas vezes minhas mãos 
te deram vida
a rudeza dos troncos, 
o sabor da terra
a própria alegria da cidade 
em dia de primavera

No jardim à beira da nossa casa.
as árvores já reverdeceram
e lá ao longe, por entre os prédios,
as águas do Tejo 
ganharam a cor do céu.
Já nos dão sentido de viagem
restos do mar imenso 
que te hei-de ensinar

Sobretudo aquele dia de sol 
entre o mar e a serra
quando o verde dos pinhais 
nos fez assobiar.
Nesse dia me recordo 
que, no infinito,
prometi que te havia de ensinar 
esta sede de mar
que é Portugal dentro de mim.
Que a pátria não será 
nasceres aqui por acaso,
mas o segredo 
que à liberdade dá sentido.

Apenas tenho medo 
de não saber dizer-te
que além do mundo 
pode ser Deus.
Prefiro ensinar-te os sinais 
que o pressentem:
o barulho das ondas, 
o fulgor do sol
o porquê da dor.

Em minhas mãos hás-de sentir
o mistério de existir
que sempre te há-de marcar
E depois quando cresceres 
por ti próprio
tudo vais reaprender

Que sejas sobretudo 
um navegante!
E se fores navegante 
com sentido de distância
haverá sempre 
ilhas por descobrir
no oceano da existência.




No Princípio Era o Mar, p.32