terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Este beira-mar que somos


Sempre areias infinitas
nas dunas da memória
e o vaivém das ondas
e dos ventos e dos pés
peregrinando praias
em passeios sem fim
Sempre as serenas brumas
das manhãs atlânticas
mistura de ar e de mar
numa embriaguez portuguesa
e os barcos postados de proa
saudando a imensidão do mar
Este beira mar que somos
sempre prestes à distância
ao sonho de procurar
novos lugares, novos tempos
este voltar as costas
às casas e aos arados
e, de mãos vazias, sem porquê
acariciar a tentação
de partir, procurando
o que não há
Depois trazemos mar dentro de nós
que os nossos corpos também são
algas e ondas salgadas
e as lágrimas brumas liquefeitas.



No Princípio Era o Mar, p.41